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Lei da TV Paga fez animação brasileira dar salto, mostra mapeamento inédito

· Cultura,Pesquisas e Estudos,JLeiva

Ao fixar cotas mínimas para veiculação de conteúdo nacional em canais por assinatura, a legislação ajudou a impulsionar o setor; conheça esse e outros dados do estudo da JLeiva em parceria com o Anima Mundi.

Considerada um marco para o audiovisual no país, a Lei da TV Paga (lei 12.485/2011) foi fundamental para o desenvolvimento da animação nacional, indica o primeiro Mapeamento da Animação no Brasil, encomendado pelo Anima Mundi à JLeiva Cultura & Esporte. Ao estabelecer cotas mínimas para o conteúdo brasileiro na grade nos canais por assinatura, a legislação ajudou a impulsionar a produção do setor, dinamizando e fortalecendo esse mercado.

 

A pesquisa coletou resposta de 455 freelancers e empresas – e 60% desse total surgiu a partir de 2011, justamente o ano em que a lei foi promulgada.

 

“O impacto da Lei da TV Paga foi muito positivo. Em 2012, tínhamos 504 obras registradas para a TV. Em 2013, saltou para 1.500 e mantivemos esse patamar desde então. Triplicaram as obras demandadas”, relata um representante do setor público ouvido durante o estudo (os entrevistados não foram identificados, para que pudessem emitir suas opiniões mais livremente).

 

“A indústria brasileira nem existia dez anos atrás. Hoje temos uma produção de qualidade, comparável com a de qualquer lugar do mundo. Ganhamos prêmios nos últimos anos”, reforça um docente da área entrevistado para o mapeamento. No entanto, ele pondera: “Mas, com a nossa população, a nossa economia, é muito pequeno. Teria muito mais espaço para crescer.”

Como a pesquisa foi realizada?

Freelancers, autores individuais e dirigentes de empresas responderam a um questionário on-line com cerca de 45 perguntas. Tiveram respostas de 24 unidades da Federação, de todas as regiões do Brasil.

 

O trabalho incluiu ainda um grupo focal com trabalhadores de produtoras, entrevistas com especialistas e com representantes de segmentos envolvidos na cadeia produtiva.

A ideia foi fazer um raio-X da indústria brasileira de animação, obtendo informações diversas sobre o mercado (tamanho das empresas, técnicas mais usadas, gêneros mais produzidos, públicos-alvo, faturamento, entre outros), que ajudarão a identificar gargalos, dificuldades e oportunidades.

Os principais resultados estão reunidos numa plataforma on-line interativa.

Séries estão entre as obras mais produzidas

O efeito da lei parece influenciar também os tipos de obras mais produzidos por empresas e freelancers. Os mais citados são:
- curta-metragem (73%),
- publicidade (56%)
- séries de TV (54%).

Selecionando só as empresas, a importância das séries fica mais evidente: 60% fazem esse tipo de obra (só atrás do percentual de curta-metragem, 68%). As animações seriadas são muito demandadas por canais fechados, sobretudo os voltados ao público infantil.

A ligação entre as séries e a lei é reconhecida num artigo publicado neste ano pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os autores usam dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) para mostrar que, de 2013 a 2017, as animações para TV mais que dobraram. Eles avaliam que há “grande aceitação do conteúdo pelo público infantil” e destacam os altos índices de audiência alcançados por essas produções.

 

Vale dizer que a veiculação de conteúdo nacional comumente supera o mínimo estabelecido pela Lei da TV Paga.

Com a TV por assinatura em risco, o que será do setor?

O elo com os canais pagos trouxe bons frutos para a animação brasileira. Mas o número de assinantes está caindo, abalado por serviços de streaming como YouTube e Netflix – que não são obrigados a reservar cota mínima para conteúdo nacional. A chegada da telefonia 5G (bem mais veloz que o 4G) deve intensificar esse quadro.

Os animadores vão sucumbir junto com a TV por assinatura? Ainda é cedo para dizer. O mapeamento mostra que essa plataforma é a segunda mais usada – pelas empresas, é a primeira. Mas divide espaço justamente com uma mídia emergente, as redes sociais. Os canais de streaming ou vídeo on demand (VoD) já têm peso relevante entre as empresas.

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“O maior risco que temos no curto prazo é a falência das TVs a cabo. Se as TVs vão enfraquecer e migrar para o VoD, a ausência de uma legislação própria para VoD que garanta a presença de animação brasileira ali vai fazer com que a gente perca esse ciclo virtuoso”, avalia um representante de associação entrevistado para o estudo.

Já um representante do setor público avalia que as novas mídias são uma oportunidade, pois permitem “uma segmentação imensa”. “Podemos ter animações para todas as faixas de idade”, afirma.

Um representante de outra associação também vê bons sinais. “O ganho de escala para os produtores pode vir da distribuição global, e quem pode dar isso hoje não são os canais, mas as plataformas. A grande tendência é o investimento em obra seriada. É um formato que não tem muito do aprisionamento da televisão, com número fixo de episódios e duração. As plataformas rompem com esses padrões. São no tamanho que comporta a narrativa.”

Mercado fortalecido

O mapeamento feito pela JLeiva mostra que a venda de produtos e serviços é, disparada, a maior fonte de recursos do setor (52% das respostas apontaram essa fonte). Então já se podem dispensar os recursos públicos? Não é bem assim!

 

Somados, editais, Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), Lei do Audiovisual e leis de incentivo são o que mais abastece 37% do setor, de acordo com a pesquisa. Selecionando só as respostas das empresas, o percentual sobre para 46% e supera a venda de produtos e serviços (42%).

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“Algumas produções conseguem se sustentar sem financiamento. Mas a maioria depende. O papel do Estado de apoiar está consagrado no mundo todo. O que muda é o nível de dependência”, disse um docente da área.

O mapeamento teve apoio dos consultores Alessandra Meleiro e Reynaldo Marchesini. Envolveu o estúdio de design Tabaruba e a produtora de conteúdo PrimaPagina. Contou com o patrocínio da Prefeitura de Niterói, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação de Arte de Niterói.