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Funk, o gênero musical que dialoga com os jovens brasileiros

· Cultura,Pesquisas e Estudos,Música,Funk,público potencial

Ele começou a flertar com o mercado publicitário há alguns anos, e hoje, é presença constante em campanhas de marcas conhecidas. Nascido nas periferias, o funk nacional, cujas raízes remetem à soul music norte-americana, tem driblado o preconceito e conquistado cada vez mais espaço na propaganda.

Fenômeno publicitário

Anitta, artista ligada ao funk com maior projeção — inclusive internacional —, já emprestou sua imagem para vender de refrigerante a carro. Anunciantes como Coca-Cola, Claro, IFood, MCDonald’s, Renault, Johnson & Johnson e O Boticário estão entre os muitos que se associaram à cantora.

Para se ter uma noção do fenômeno publicitário em que se transformou, no ano passado, ela ocupou o quarto lugar na lista das celebridades que mais apareceram em intervalos comerciais nas principais emissoras da TV aberta. Foram 3.389 inserções, superando até mesmo a popular Ivete Sangalo.

E o “show da poderosa” não para por aí. Também em 2018, Anitta, que ganhou uma série documental produzida pela Netflix, conquistou o posto de maior cachê feminino da publicidade nacional e se tornou garota-propaganda do YouTube Music para América Latina.

Nomes de peso

Ludmilla é outra que “chegou chegando” ao mercado publicitário. A cantora já acumula várias campanhas, incluindo uma de Dia das Mães para a rede de lojas de departamento Riachuelo e outra para a empresa de telefonia TIM. Nesta última, “Din Din Din”, um dos sucessos da cantora, ganhou versão especial para o comercial, que tem ainda a participação do ator e apresentador Rodrigo Hilbert.

Já o hitmaker Kevinho estrela sua primeira campanha para a televisão, lançada neste mês. Ele foi escolhido para ser embaixador da linha de smartphones K12, da LG. Antes disso, deu voz a um comercial para o McDonald’s Brasil por meio da adaptação da música “Encaixa” e criou uma canção para a Copa do Mundo 2018, numa parceria entre a operadora Vivo e o produtor e empresário Konrad Dantas, o KondZilla, dono do 3º maior canal de todo o YouTube, que conta com quase 49 milhões de inscritos e mais de 24 bilhões — sim, você leu direito — de visualizações. O foco do canal? Funk, é claro.

Trilhas e paródias

Mesmo quando não há cantores na propaganda, o funk aparece ou como trilha sonora — lembra da polêmica no comercial de um carro de luxo embalado por um batidão? — ou por meio de paródias divertidas, como a campanha para a OLX que exibiu uma versão do famoso “Rap da Felicidade”, de Cidinho e Doca, e ficou entre os 10 anúncios mais assistidos no YouTube em 2015.

O “funk do iate”, cantado pelo humorista Marcelo Adnet na propagando do Guaraná Kuat, não chega a ser uma paródia, mas tem a mesma pegada de humor.

De olho nos jovens

Por trás da associação entre marcas e funk está o desejo de dialogar com jovens. E a estratégia faz sentido. O estilo musical figura entre os prediletos do público com idades entre 12 e 24 anos, sobretudo, os adolescentes. Foi o que identificou a Pesquisa Cultura nas Capitais, realizada pela JLeiva em parceria com o Datafolha.

O estudo mostrou que, na faixa etária entre 12 e 15 anos, o ritmo encabeça a preferência em todos os estratos sociais. Um detalhe chama a atenção: o estilo musical tem uma adesão especialmente maior de homens, não importa a classe.

Plataformas na internet

A pesquisa Cultura nas Capitais revelou ainda que o YouTube — o Vimeo também foi citado — está entre os meios mais usados por adolescentes e jovens para ouvir música (96%, no grupo formado por entrevistados de 12 a 15 anos e 95%, no com pessoas de 16 a 24). Coincidência ou não, muitos do expoentes do funk nadam de braçada na plataforma de compartilhamento de vídeos da Google. O canal oficial da Anitta, por exemplo, tem quase 12 milhões de inscritos, e é lá que muitas de suas músicas começam a decolar. Já Kevinho e Ludmilla reúnem mais de 4,5 milhões, cada, superando medalhões como Caetano Veloso (340.240 inscritos) e Gilberto Gil (81.446).

Vale apostar?

A combinação marca e funk nem sempre é sinônimo de sucesso. Mais ou menos uma década atrás, uma propaganda da Dell computadores deu o que falar ao tentar fazer um trocadilho entre o nome da empresa e o “Funk do Créu”. O resultado desagradou muita gente e não faltaram críticas à ação de marketing.

O mais importante, enfatiza Joanna Savaglia, diretora comercial na JLeiva, é definir um público-alvo e avaliar se esse estilo musical faz sentido na comunicação com ele.

“Em 2014, por exemplo, a Nike patrocinou uma peça de teatro com músicas de funk e coreografia de passinho - a dança dos menores da favela. Esse patrocínio fez todo o sentido, pois a Nike se reconheceu como a marca mais desejada pelos dançarinos e por seu público e entendeu a oportunidade”.

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